Relação terapeuta -
paciente
Nos muitos anos em que ministrei aulas nos
cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, sempre procurei passar aos
alunos, além das informações técnico-cientificas que eram minha obrigação,
alguma coisa a mais.
Uma das coisas que me lembro de comentar
para os alunos era a relação terapeuta-paciente. Uma relação complexa, difícil,
fascinante. Uma relação que dificilmente é de igualdade, pois de um lado há alguém precisando de ajuda. Do outro,
algum tentando ajudar. Mas se essa
relação dificilmente é de igualdade ela sempre deve ser de Respeito e de Amor.
Embora minhas dicas, digamos
assim, fossem dirigidas a futuros fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais,
alguma coisa delas talvez possa ser útil para qualquer pessoa que venha a
lidar, ou esteja lidando, com pessoas com problemas físicos, mentais ou
espirituais. Assim, vamos lá.
Preparo.
Se você vai lidar com a Saúde de alguém, antes de mais nada, prepare-se
bem, antes de fazê-lo. Prepare-se muito bem. Tecnicamente, emocionalmente e
culturalmente. Não mexa com a Saúde de alguém sem estar preparado para isso.
Leia muito, observe bastante, treine antes, ouça sempre.
Distanciamento
Mantenha sempre distanciamento dos problemas do paciente. Não se envolva
emocionalmente. Nunca se envolva com os problemas do paciente. Os problemas
dele são dele. E ele é quem tem que resolvê-los, ainda que com ajuda, sua ou de
outrem. E isso não significa frieza ou desamor. Significa, sim, maturidade e
preparo. Você, com certeza, tem os seus próprios problemas, que você terá que
resolver.
“-Ah, mas eu me envolvo, sabe!
Sou muito emotivo. Coloco-me no lugar dela e fiquei com muita pena, sabe?"
Pare. Isso nada mais é que imaturidade e despreparo, técnico e
emocional. Não atenda mais ninguém, vá estudar, amadurecer e se preparar, e só
volte a atender quando estiver apto a ajudar, e não a atrapalhar. É comum um profissional que se sinta
despreparado, tecnicamente, tentar conquistar a simpatia do paciente pelo lado
afetivo, como que para disfarçar seu desconhecimento. O paciente veio procurar um profissional
para ajudá-lo e orientá-lo, com conhecimento, educação, firmeza e amor
fraterno. Os parentes, amigos e vizinhos
talvez já estejam fazendo o papel de confidentes e, quem sabe, de cúmplices em
alguma fuga do tratamento correto.
Humildade (sem submissão incompetente).
Lembre-se que você não sabe tudo. Ninguém
sabe tudo. Eventualmente poderá ser necessário e prudente dizer "não sei,
mas posso me informar". Eventualmente também, você poderá até errar. Todo mundo erra.
Noção holística
Lembre-se que você estará exercendo uma, das múltiplas formas de
tratamento existentes. Não existe panaceia.
Não existe uma terapia que cure tudo e todos.
Se você verificar que o problema do paciente não é da alçada do seu tipo
de tratamento, encaminhe-o. Por
ex.: para uma apendicite supurada não
adianta passe, injeção ou massagem. Há que fazer uma cirurgia.
Paciência
Não tenha pressa enquanto estiver atendendo. Não há que se demorar mais
que o necessário, mas se você estiver com pressa (algum compromisso seu; sala
de espera lotada; horário atrasado) a chance de você errar aumenta muito. Um paciente pode até reclamar de ter
esperado muito para ser atendido. Mas passa, se for bem atendido. Mas ele irá reclamar para sempre se o
atendimento for errado ou mal feito.
Recompensa
Não tenha receio ou vergonha de receber honorários se o atendimento for
particular. É a sua profissão, você se preparou para isso e depende disso. Um
dono de loja também não se envergonha de cobrar pelo produto que vende. Também não tenha receio de dar desconto, se a
pessoa necessitar/merecer e se você achar correto, ou de não cobrar nada se o
paciente necessitar ou se seu trabalho for voluntário. Mas nunca faça diferença
entre os atendimentos. Lembre-se que a opção foi sua, e em qualquer atendimento
deve dar o melhor de você mesmo. Sempre.
Sigilo
Não comente os atendimentos que fez. Só isso.
Maturidade
Não ria dos comportamentos ou histórias dos pacientes. O ser humano, por
natureza, é tragicômico, ou seja, a mesma situação que dá para rir também dá
para chorar. Depende somente de que lado você está. É só "questão de peso
e medida, problema de hora e lugar, pois tudo são coisas da vida".
Personalidade
Com o tempo e a experiência, você adquirirá um modus operandi próprio,
ou seja , a sua marca pessoal de atendimento, que em verdade e se possível,
também poderá ser sempre aprimorada.
Apenas não fuja dos códigos de ética e moral, e não "invente"
tratamentos. Poderá, claro, até criar
uma técnica nova, mas apresente-a nos fóruns adequados para ser analisada e
aprovada.
Felicidades.
Dr. Roberto Perche de Meneses - médico radiologista, escreveu o
livro "Vila Pequena", é colaborador do site Somo Todos Um,
"Clube Stum" - com artigos revigorantes, sensíveis, vale a pena
lê-los, para isso entre no site http://somostodosum.ig.com.br/c.asp?i=7655&s=1