domingo, 5 de julho de 2015

Alimentação saudável e as três gunas

Em estado graça divina podemos observar toda a beleza e harmonia da mãe natureza. Sentimos todo seu AMOR para conosco, nutrindo-nos em seu seio de ternura com a possibilidade da vida. Filhos da mãe terra, estamos imersos no oceano da consciência divina, e manifestos entre as ondas da vida neste planeta.
A perfeição da vida nos mostra como a natureza nos supriu desde o princípio das eras, e assim o fará enquanto durar sua manifestação. A bem-aventurança e abundância são naturais no universo, e estão manifestas através das gunas, as três qualidades básicas da criação. O estudo da manifestação das gunas e a compreensão de nossas escolhas para uma alimentação saudável são de suma importância em nosso aprendizado espiritual.
A qualidade da alimentação é algo muito sutil, e requer uma análise que transcende as propriedades químicas dos alimentos, mais precisamente uma análise das vibrações manifestas nos alimentos, que também podem ser observadas sobre o ponto de vista das gunas.
Muitas pessoas questionam os vegetarianos, veganos e praticantes de outras dietas sobre seus hábitos, se a falta da carne não será causa de futuras doenças e desequilíbrios. Ao optar por uma dieta, devemos estar conscientes dos verdadeiros motivos desta escolha, e a interpretação dos ensinamentos de Krishna é muito interessante para termos mais consciência sobre nossas escolhas alimentares.
“Alimentos que promovem longevidade, vitalidade, resistência, saúde, bom humor e apetite saudável; que agradam ao paladar, são moderadamente temperados, nutritivos e bons para o corpo: eles propiciam (contentamento sáttwico) e gozam da preferência das pessoas sáttwicas.
Alimentos amargos, azedos, salgados demais, muito quentes, de gosto picante e ardidos (propiciam satisfação rajásica) e são de preferência do temperamento rajásico. Tais alimentos geram dor, mal-estar e doença.
Alimentos pouco nutritivos, sem gosto, pútridos, rançosos, deitados ao lixo ou(por qualquer outro modo) impuros (propiciam contentamento tamásico) e são preferidos pelas pessoas tamásicas.” Bhagavad Gita (17:8-10)
Analisando os ensinamentos de Krishna podemos compreender por que a maioria das pessoas espiritualistas opta por dietas vegetarianas e afins. Os elementos sáttwicos da natureza, tem vibrações sutis, e não geram grandes turbulências no oceano dos sentidos humanos. Seu paladar agradável, e sabores mais suaves, não causam grandes mudanças nas percepções dos sentidos físicos e conseguem manter a mente concentrada na percepção divina. Os alimentos sáttwicos tendem a acalmar o corpo e limpar os canais mais sutis para que a energia flua mais intensamente através de nosso tecido nervoso. Esse relaxamento faz com que o corpo fique leve sem os desconfortos dos efeitos digestivos de dietas mais densas.
Analisando à natureza da cadeia alimentar podemos chegar a uma conclusão um tanto inusitada, mas realidade para muitos iogues e espiritualistas avançados. A base de toda nossa alimentação é Luz.
O primeiro reino participante da grande cadeia alimentar do planeta é o reino vegetal. Através da clorofila, os vegetais transformam a energia da luz solar em energia vital o que lhes confere a vida. Essa energia vital, expressa no maravilhoso tom verde característico da maioria dos vegetais, demonstra todo o amor que nossa mãe terra possui para nos suprir. Os vegetais são os alimentos que possuem a maior quantidade de luz, de energia cósmica, e seu consumo é a uma comunhão com sattwa guna.
Os alimentos que canalizam a maior quantia de luz e energia imanente, por tanto os mais sutis são as frutas e vegetais frescos. É de vital importância que os mesmos sejam orgânicos, pois os venenos são manifestações de rajoguna. Podemos incluir nos alimentos sátwwicos os cereais integrais, nozes e castanhas, e adoçantes naturais como o mel. O consumo destes alimentos, ajuda a manter o corpo físico em vibrações mais sutis, facilitando nosso contato com as energias mais elevadas de amor e consciência divina.
Este texto foi  inspirado pelas explicações de Paramahansa Yogananda sobre o Bhagavad Gitaar legenda

Quando seguimos a cadeia alimentar, os vegetais passam a ser consumidos por outros reinos, que incluem novas vibrações em seus corpos manifestos, afastando-os um pouco mais da essência de luz recebida diretamente pelos vegetais. Os peixes, aves e alguns animais de consciência inferior fazem parte da dieta rajásica.
A ignorância (afastamento da luz) espiritual reina absoluta nestes seres que não possuem percepção de sua condição evolutiva. Ao consumirmos alimentos desta origem é o mesmo que afinizar nossos corpos com manifestações inferiores da natureza divina. Os alimentos rajásicos são estimulantes dos sentidos físicos, para as energias vitais do corpo, e seus efeitos fazem com a energia vital flua sem cessar. Eles são fundamentais para atingir um equilíbrio em certos casos. Swami Kriyananda cita em seu livro, a essência do Bhagavad Gita: “ No caso de pessoas menos ativas que meditativas, uma certa quantidade de rajas é boa para induzi-las a ação. Cebola, alho e ovos são exemplos de alimentos rajásicos que podem ser benéficos para pessoas sáttwicas que também precisam levar uma vida ativa. Os ovos às vezes são equiparados à carne: não são, porém, mais carne que os derivados do leite. Outros alimentos rajásicos incluem os exageradamente quentes, temperados, salgados ou de sabor picante. Algumas carnes podem ser consumidas no regime rajásico: de peixe, ave e carneiro.”
Os alimentos tamásicos são alguns dos fatores que ainda aprisionam as consciências nas percepções tamásicas, ou egocêntricas. Podem ser descritos como alimentos tamásicos aqueles que possuem as vibrações mais densas, principalmente as carnes vermelhas e raízes fortes. É conveniente citar outro trecho do sábio Kriyananda, referindo-se ao consumo de carne de vaca e porco: “O abate desses animais bastante evoluídos gera fortes emoções como medo e raiva, que permanecem como vibrações na própria carne, aumentando as tendências naturalmente agressivas ou timoratas das pessoas. A carne de vaca provoca câncer. A de porco é um alimento imundo (a doçura do presunto deve-se, segundo meu Guru, ao pus que ela contém).”
A alimentação é uma das chaves fundamentais para purificarmos nossos corpos e ações. Compreender suas sutilezas é se entregar ao conhecimento sagrado da sabedoria da Mãe Natureza. Além do ponto de visão espiritual também devemos analisar a composição química dos alimentos, e respeitar o trabalho dos nutricionistas e profissionais da alimentação.
A vibração densa dos alimentos pode ser transmutada por sentimentos de amor e compaixão. Os índios de muitas tribos purificavam a carne abatida para que a mesma fosse consumida sem afetar a paz de espírito. O mesmo pode ser feito pelo amor daquele que prepara os alimentos, que é capaz de purificar as toxinas, hormônios e sentimentos densos depositados principalmente nas carnes. A força da intenção, do amor e cura depositadas na manipulação do alimento podem ajudar a transmutar as tendências de tamaguna e rajoguna em sáttwicas, como o exemplo da Santa que vivia de luz, mas preparava alimento para muitas pessoas, citadas na autobiografia de Paramahansa Yogananda.
A informação e o discernimento com relação à alimentação deve ser a principal ferramenta para debates e esclarecimentos na obtenção da saúde ideal para nosso corpo físico, e principalmente para o equilíbrio perfeito da conexão com nossos corpos mais sutis e nossa essência divina.
Mautama Krishnarabi