sábado, 16 de março de 2013

ARTIGO - Dr. ROBERTO PERCHE DE MENESES



Relação terapeuta - paciente
    Nos muitos anos em que ministrei aulas nos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, sempre procurei passar aos alunos, além das informações técnico-cientificas que eram minha obrigação, alguma coisa a mais.
     Uma das coisas que me lembro de comentar para os alunos era a relação terapeuta-paciente. Uma relação complexa, difícil, fascinante. Uma relação que dificilmente é de igualdade, pois de um  lado há alguém precisando de ajuda. Do outro, algum tentando ajudar.  Mas se essa relação dificilmente é de igualdade ela sempre deve ser de Respeito e de Amor.
Embora minhas dicas, digamos assim, fossem dirigidas a futuros fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, alguma coisa delas talvez possa ser útil para qualquer pessoa que venha a lidar, ou esteja lidando, com pessoas com problemas físicos, mentais ou espirituais.  Assim, vamos lá.
Preparo.
   Se você vai lidar com a Saúde de alguém, antes de mais nada, prepare-se bem, antes de fazê-lo. Prepare-se muito bem. Tecnicamente, emocionalmente e culturalmente. Não mexa com a Saúde de alguém sem estar preparado para isso.
   Leia muito, observe bastante, treine antes, ouça sempre.
Distanciamento
   Mantenha sempre distanciamento dos problemas do paciente. Não se envolva emocionalmente. Nunca se envolva com os problemas do paciente. Os problemas dele são dele. E ele é quem tem que resolvê-los, ainda que com ajuda, sua ou de outrem. E isso não significa frieza ou desamor. Significa, sim, maturidade e preparo. Você, com certeza, tem os seus próprios problemas, que você terá que resolver.
“-Ah, mas eu me envolvo, sabe! Sou muito emotivo. Coloco-me no lugar dela e fiquei com muita pena, sabe?"
   Pare. Isso nada mais é que imaturidade e despreparo, técnico e emocional. Não atenda mais ninguém, vá estudar, amadurecer e se preparar, e só volte a atender quando estiver apto a ajudar, e não a atrapalhar.  É comum um profissional que se sinta despreparado, tecnicamente, tentar conquistar a simpatia do paciente pelo lado afetivo, como que para disfarçar seu desconhecimento.    O paciente veio procurar um profissional para ajudá-lo e orientá-lo, com conhecimento, educação, firmeza e amor fraterno.  Os parentes, amigos e vizinhos talvez já estejam fazendo o papel de confidentes e, quem sabe, de cúmplices em alguma fuga do tratamento correto.
   Humildade (sem submissão incompetente).
    Lembre-se que você não sabe tudo. Ninguém sabe tudo. Eventualmente poderá ser necessário e prudente dizer "não sei, mas posso me informar". Eventualmente também, você poderá até errar.  Todo mundo erra.
Noção holística
   Lembre-se que você estará exercendo uma, das múltiplas formas de tratamento existentes.  Não existe panaceia. Não existe uma terapia que cure tudo e todos.  Se você verificar que o problema do paciente não é da alçada do seu tipo de tratamento, encaminhe-o.  Por ex.:  para uma apendicite supurada não adianta passe, injeção ou massagem. Há que fazer uma cirurgia.
Paciência
   Não tenha pressa enquanto estiver atendendo. Não há que se demorar mais que o necessário, mas se você estiver com pressa (algum compromisso seu; sala de espera lotada; horário atrasado) a chance de você errar aumenta muito.   Um paciente pode até reclamar de ter esperado muito para ser atendido. Mas passa, se for bem atendido.  Mas ele irá reclamar para sempre se o atendimento for errado ou mal feito.
Recompensa
   Não tenha receio ou vergonha de receber honorários se o atendimento for particular. É a sua profissão, você se preparou para isso e depende disso. Um dono de loja também não se envergonha de cobrar pelo produto que vende.  Também não tenha receio de dar desconto, se a pessoa necessitar/merecer e se você achar correto, ou de não cobrar nada se o paciente necessitar ou se seu trabalho for voluntário. Mas nunca faça diferença entre os atendimentos. Lembre-se que a opção foi sua, e em qualquer atendimento deve dar o melhor de você mesmo.  Sempre.
Sigilo
  Não comente os atendimentos que fez. Só isso.
Maturidade
   Não ria dos comportamentos ou histórias dos pacientes. O ser humano, por natureza, é tragicômico, ou seja, a mesma situação que dá para rir também dá para chorar. Depende somente de que lado você está. É só "questão de peso e medida, problema de hora e lugar, pois tudo são coisas da vida".
Personalidade
  Com o tempo e a experiência, você adquirirá um modus operandi próprio, ou seja , a sua marca pessoal de atendimento, que em verdade e se possível, também poderá ser sempre aprimorada.  Apenas não fuja dos códigos de ética e moral, e não "invente" tratamentos.  Poderá, claro, até criar uma técnica nova, mas apresente-a nos fóruns adequados para ser analisada e aprovada.
Felicidades.  

Dr. Roberto Perche de Meneses - médico radiologista, escreveu o livro "Vila Pequena", é colaborador do site Somo Todos Um, "Clube Stum" - com artigos revigorantes, sensíveis, vale a pena lê-los, para isso entre no site http://somostodosum.ig.com.br/c.asp?i=7655&s=1




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