Um amigo me
chamou para conversar sobre seu filho. Estava muito preocupado com o rapaz que
andava deprimido já havia um tempo. O pai não sabia o que fazer, como ajudar, e
sofria ao pensar na situação do filho. Falei que ele poderia recomendar ao
filho um trabalho terapêutico que seria de grande ajuda, caso o rapaz
aceitasse. Caso não aceitasse, não havia nada a ser feito, a não ser aguardar.
Dei uma
outra recomendação importante. Que ele mesmo buscasse um trabalho terapêutico,
para que ficasse em paz diante do sofrimento do filho, mesmo que o rapaz não
quisesse ser ajudado. Falei que seria muito bom que ele ficasse bem, ainda que
seu filho estivesse atravessando uma fase difícil.
Nesse
momento, ele me falou que tinha uma relação muito estreita como filho e que por
gostar muito dele, não conseguiria vê-lo daquele jeito e ficar em paz ao mesmo
tempo. Surgiu, então, uma crença muito comum: a crença de que quando alguém que
nos amamos está sofrendo, temos que sofrer também e não podemos ficar em paz.
Essa crença traz outras implicações, que são também crenças e pensamentos nos
prendem ao sofrimento:
Se eu fico
em paz enquanto meu filho tem um problema sério, significa que não o amo/ Se eu
estiver feliz enquanto ele tem um problema, isso significa que não me importo
com ele/ Se eu ficar em paz, não vou tomar nenhuma atitude para ajudá-lo/ As
pessoas só agem para ajudar alguém quando eles sofrem ao ver o outro sofrer/ Se
elas não sofrem, é porque são pessoas frias e sem sentimentos/ É preciso sofrer
junto com o outro para se importar e fazer algo por ele/ Não quero ser uma
pessoa, fria, egoísta, ou insensível, por isso eu tenho que sofrer junto com
ele/ Sinto culpa em estar feliz enquanto o outro sofre/ Ficar infeliz junto com
o outro é uma forma de não sentir essa culpa/ Não sofrer junto com o outro é
abandonar e trair o outro
Expliquei
que tudo isso são crenças extremamente comuns, as quais já vi se repetir em
dezenas de atendimentos que fiz, que servem apenas para produzir mais
infelicidade. Nosso sofrimento não ajuda ninguém. Pelo contrário, sempre acaba
atrapalhando. Seja a nós mesmos, seja ao outro pois acabamos por ser
insistentes, preocupados demais e não respeitando o direito que ele tem de não
buscar ajuda. Quando há sofrimento e insistência de nossa parte, queremos que o
outro mude logo, assim também acabaremos com o nosso sofrimento. Parte dessa
motivação em ajudar acaba sendo bastante egoísta.
O que,
então, pode nos impulsionar a ajudar os outros, se estamos plenamente felizes e
em paz? O amor nos impulsiona. Ponto. Não precisamos de nenhum tipo de
sofrimento pra isso. O bebezinho nasce e nós sentimos um irresistível impulso
de cuidar e ajudar. E quanto mais estamos felizes, melhores serão nossas
atitudes e melhor será nossa ajuda.
O ego nos
convence que precisamos sofrer junto com o outro e com isso acabamos fazendo
parte do problema. Quem está infeliz, está fazendo parte do problema. É como se
quiséssemos ajudar alguém a sair de um buraco de uma maneira equivocada.
Estamos fora do buraco, aí entramos dele e pedimos que a pessoa suba em nossos
ombro para que ela possa sair.
Por alguma
razão, ela não tem forças e não consegue. Agora, são dois dentro do buraco.
Continuamos a insistir, a pessoa sem forças não consegue e nós acabamos por
ficar lá dentro com ela.
Famílias
inteiras entram dentro do buraco quando tem algum membro com um problema mais
sério, principalmente em casos de depressão, vícios e outra questões emocionais
graves. Os membros da família sempre querem que o familiar doente busque ajuda.
Insistem, ficam com raiva, preocupados, tristes, e isso nunca tem o poder de
convencer aquela que não quer ser ajudado.
Os
familiares ligam para o terapeuta (já recebi muitas ligações e emails assim)
dizendo que o filho, ou a mãe precisa de ajuda urgente, e perguntam como é o
trabalho, quanto custa, falam que vão pagar e etc. Como não foi o próprio
"precisado" que entrou em contato para buscar ajuda, já sinto que
aquilo provavelmente não dará em nada.
Não vou
dizer que é impossível, mas é muito raro que alguém consiga encaminhar o outro
que não quer ser ajudado. Podemos apenas sugerir e deixar que ele procure o
caminho. Quando um adulto quer, ele mesmo liga e agenda. Em alguns casos, pode
ser que peça pra alguém pra fazer isso por ele. Mas quando o desejo não parte
da pessoa em dificuldades, ela não chega até o tratamento, ou então, chega e
rapidamente abandona.
Quando
recebo emails ou telefonemas nesse sentido e sinto o sofrimento de quem está
querendo ajudar, costumo indicar que a própria pessoa que ligou faça um
trabalho. E como se eu dissesse "você entrou dentro do buraco, é
importante que você saia, até para gerar um equilíbrio maior a família".
Quanto mais pessoas sofrendo, pior para aquela família; óbvio.
A melhor
forma de ajudar surge quando estamos em paz. Você olha alguém para dentro do
buraco, e lá de cima, oferece sua mão para que a pessoa saia. Ela não consegue,
aí você coloca uma escada e deixa lá à disposição. Mesmo assim, tem alguns que
não sobem. E são muitas as razões inconscientes que levam alguém a agir dessa
forma. Nem mesmo a própria pessoa sabe, nem enxerga que está se sabotando. Não
passa pela lógica racional. Jamais conseguiremos entender plenamente o que se
passa. É preciso que a própria pessoa acorde e tome a decisão de sair do buraco
aceitando a ajuda oferecida.
Quando
tentamos convencer a todo custo, falando demais, brigando, insistindo, o efeito
costuma ser o contrário e a tendência é que a pessoa se feche para ajuda cada
vez mais. Estamos na verdade, em parte, querendo acabar com o nosso próprio
sofrimento, pois precisamos que o outro mude para ficarmos em paz. Quando
descobrimos que podemos ter a nossa paz interior independente do outro, surge o
desapego. Não é desinteresse e, sim, desapego. Estaremos prontos para ajudar,
mas sem aquela vibração de necessidade, medo, desespero e até raiva do outro
durante a espera. Nesse estado não há também o sentimento de culpa em estar bem
enquanto o outro está mal.
Respeitar
a decisão do outro (ainda que seja uma decisão inconsciente) de permanecer
dentro do buraco é um ato de amor e consideração. Aguardar pacientemente, de
forma desapegada, é também um ato de amor. Quando agimos dessa forma, nosso
poder de influência se torna bem maior, por mais que pareça o contrário. A *EFT
(técnica para auto-limpeza emocional, veja como receber um manual gratuito no
final do artigo) nos leva a esse estado de paz, pois com sua ajuda é possível
dissolver todas as crenças limitantes que nos prendem ao sofrimento.
André Lima -EFT Practitioner
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